Abusos sexuais contra crianças e adolescentes disparam na pandemia

A maioria dos abusos cometidos contra crianças e adolescentes acontece dentro de casa. Crédito da foto: Veja Abril

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O abuso sexual infantil sempre atingiu índices alarmantes no Brasil e durante a pandemia estes números só aumentaram. Segundo dados do Disque 100, houve um crescimento no número de denúncias no primeiro semestre de 2021, em relação ao primeiro semestre de 2020. Foram 5.106 violações registradas de janeiro a maio deste ano, contra 3.342 no primeiro semestre do ano passado.

O estupro de vulnerável é mais conhecido pela sociedade como abuso sexual, ele está relacionado aos atos libidinosos com crianças menores de 14 anos, com ou sem consentimento, o crime prevê pena de 8 a 15 anos de reclusão.

O dado mais alarmante é que quase 80% dos abusos acontecem dentro de casa e através de pessoas do convívio destas crianças e adolescentes, de acordo com dados levantados pelo Ministério da Saúde. Do total de denúncias realizadas nos últimos meses, 83,87% foram contra meninas e 57,73% contra crianças e adolescentes negros.

Segundo a Delegada do Nucria em Paranaguá, Maria Nysa, a comunidade escolar tem um papel fundamental com relação às denúncias, o que acabou sendo prejudicado devido a pandemia e suspensão das aulas presenciais em grande parte das instituições de ensino.

Na imagem, a delegada do Nucria Maria Nysa. Crédito da foto: Folha do Litoral

“Antes da pandemia a maior fonte de denúncias era o sistema educacional, atualmente são os familiares. A primeira medida a ser tomada para realizar uma denúncia é levar ao conhecimento da autoridade policial através de boletim de ocorrência. Existem outros canais como disque 100 e 181 que podem facilitar a denúncia, mas não são os meios mais rápidos para se fazer o registro. O mais rápido, aqui em Paranaguá, é ir à delegacia ou enviar e-mail para o NUCRIA: nucriaparanagua@pc.pr.gov.br. O NUCRIA é uma delegacia especializada no atendimento de crianças e adolescentes vítimas de crimes”, ressalta a delegada.

Segundo a psicóloga Desiree Gomes, mudanças no comportamento daquela criança ou adolescente podem ser indicativos de possíveis abusos sexuais. “Os sinais costumam variar de acordo com a idade, mas o principal alerta é a esquiva que a criança ou adolescente faz do agressor, evita contato, ir até a casa da pessoa, reluta e/ ou chora. Outros comportamentos também podem aparecer, como: irritabilidade, agitação e medos. Algumas brincadeiras e desenhos podem emitir alguns alertas, principalmente quando apresentam conteúdo sexual.”

A psicóloga também destaca que, quando se desconfia de uma situação de abuso sexual é preciso tomar cuidado com a maneira de abordar a vítima, fazer com ela se sinta protegida e segura é essencial. O mais indicado é procurar a ajuda de um profissional.

“Muitas vezes a vítima de pedofilia sente-se coagida ao falar sobre o que está acontecendo, isso porque, geralmente, tem medo de ser desacreditada e que algo ruim aconteça com ela ou seus familiares. Ao abordar a criança é importante mostrar que ela será protegida e que tal pessoa não se aproximará mais dela. Quando existe alguma suspeita, as perguntas devem ser muito cuidadosas, por isso o mais indicado é procurar ajuda de um profissional da psicologia para garantir suporte para a criança e sua família, orienta Desiree.

Os danos gerados por abusos sexuais, especialmente durante a infância e adolescência são inúmeros, como a depressão, ansiedade, síndrome do pânico. Por isso, o acolhimento dos familiares e a busca por auxílio profissional podem ser determinantes para o futuro da vítima.

“Os danos do abuso sexual podem ser inúmeros e em alguns casos deixam danos psíquicos graves, como: depressão, ansiedade, pânico, dificuldade de estabelecer relacionamentos e confiar em pessoas. Os danos tendem a se agravar se a vítima não receber o devido suporte médico e psicológico, como nos casos em que a violência acontece dentro de casa ou com familiares próximos. Geralmente nesses casos as denúncias não ocorrem, a criança é afastada do agressor, mas não recebe o devido acompanhamento psicológico para lidar com o trauma, o que pode desencadear o sentimento de desamparo e posteriormente desvalor, implicando uma série de dificuldades na vida adulta. Portanto, quando falamos sobre abuso sexual infantil precisamos falar desde a prevenção até o momento de se fazer uma denúncia, já que o abusador tende a reproduzir esses atos com outras pessoas, ou seja, denunciar evita com que os abusos ocorram com outras crianças”, finaliza a psicóloga.

As denúncias de qualquer tipo de crime envolvendo crianças e adolescentes, podem ser feitas através dos telefones: 100 e 181 e em Paranaguá também através do e-mail do Nucria: nucriaparanagua@pc.pr.gov.br, o Nucria está instalado na Delegacia Cidadã, localizada na Rua Domingos Peneda, 2850, Vila Itiberê.