Empresário se torna ativista LGBTQIA+ em Paranaguá

Na imagem, Rubens Marçal Anze Fortunato. Crédito da foto: Redes Sociais do Entrevistado

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Rubens Marçal Anze Fortunato, mora em Paranaguá, tem 40 anos de idade é Consultor Empresarial e ocupa um cargo na diretoria de um escritório de contabilidade na cidade. Durante a pandemia, Rubens resolveu tomar uma decisão que mudaria para sempre a sua vida: assumiu a homossexualidade.

O desejo de gritar ao mundo quem realmente era e o que procurava, sempre foi antigo, mas o medo de ser rejeitado pelas pessoas que ama e até de ser prejudicado no trabalho, adiaram esta decisão por muitos anos.

Durante o período de isolamento social que se tornou obrigatório no mundo todo, ele passou a refletir sobre a questão nos momentos de solidão e chegou à conclusão que era a hora de enfrentar seus medos. E isso aconteceu de maneira avassaladora, em pouco tempo, ele se tornou um dos principais defensores das causas LGBTQIA+ em Paranaguá.

O assunto “homossexualidade na infância” é um dos mais abordados por Rubens, devido a polêmica gerada em torno da inclusão da temática ideologia de gênero nas instituições de ensino.

Venha conhecer esta história de superação e exemplo de que, nunca é tarde para ir em busca da felicidade plena. Ao Rubens, o Portal + Notícias agradece por compartilhar sua história e inspirar tantas outras.

1- Em qual momento você descobriu a homossexualidade?

A gente ouve falar desde muito cedo, até porque, no meu caso, desde criança era chamado de “bichinha”. E a gente escuta as piores coisas, aprende desde cedo que é algo “errado”, que é uma abominação, mas não tinha ainda essa percepção de mim mesmo, até porque não havia ainda desejo sexual. Eu era só uma criança mais “delicada” e alegre. Lá por volta dos 11 anos, no começo da adolescência, é que descobri que meu desejo era por homens, embora minha primeira relação com um homem tenha sido bastante tardia. Enfim, é o mesmo pra todos os meninos e meninas, independentemente da orientação sexual, quando nossos hormônios disparam, começamos a ter desejo. A gente não escolhe o objeto de desejo, apenas acontece.

2- Por que você resolveu esconder esse assunto durante muito tempo?

Por medo. Medo do preconceito da sociedade, medo de perder clientes, de manchar minha reputação profissional, de minha liderança na minha empresa deixar de ser reconhecida, de perder amigos, da reação da família, de causar um desgosto para minha mãe. Até de ir para o inferno. Nós crescemos ouvindo que é errado, internalizamos isso. Minha família era católica, a própria religião não nos propicia tratarmos como algo normal.

3-Em qual momento resolveu assumir que você realmente é?

Tive um processo longo de me assumir aos poucos para pessoas de confiança até tomar a decisão de tornar isso público. Foi durante a pandemia. Percebi que a vida era muito curta para passar toda ela me escondendo, sufocado e com medo. E a pandemia nos isolou. Foi (ainda é) um momento de solidão para muitos de nós. E então ficou claro que queria um companheiro, uma família e, para ter isso, precisaria deixar clara minha orientação sexual, para ter a liberdade de viver isso sem esconder nada de ninguém. Para ter o mesmo que meus amigos héteros têm desde sempre: uma vida normal e plena.

4- Como tem sido sua vida hoje?

Maravilhosa. Assumir um detalhe mudou tudo. Saí da vergonha para o orgulho. Sou muito mais feliz e mais leve após isso.

5- Você parece muito engajado nas causas LGBTQIA+ como tem sido essa luta em Paranaguá? O tema homossexualidade na infância é sempre muito lembrado por você, por que?

Resolvi me colocar à disposição da causa. Foram muitos anos de silêncio e hoje, já assumido, convivendo com outros LGBTs, compartilho das mesmas dores que todos. Então, resolvi partir para a ação. E isso ocorre exatamente no momento em que está chegando em Paranaguá a Aliança Nacional LGBTI+, com a Bhranda dos Santos. Termos alguém na liderança e coordenando ações em prol da comunidade vai nos ajudar muito a ter visibilidade e trazer discussões relevantes para a sociedade, bem como finalmente tratar de políticas e projetos concretos para a nossa comunidade.

Já o assunto da infância surgiu porque uma ala mais conservadora da cidade resolveu debater o assunto ideologia de gênero (algo que sequer existe, pois não é ideologia). Não tenho autoridade para falar do tema sob o ponto de vista científico (embora conheça os dados), pois não sou educador, médico ou psicólogo. Mas, posso contribuir no debate com a perspectiva humana, de quem passou pelo sofrimento que quase todas as crianças LGBT passam desde muito cedo. E essas crianças precisam de proteção. Claro que se deve usar linguagem adequada para cada idade. Tratar o assunto orientação sexual e gênero como algo normal e não como tabu pode ajudar a diminuir o preconceito das próximas gerações.

6- Qual recado deixaria para as pessoas que estão passando por um momento de crise e com medo de se assumir?

Faça no seu tempo, quando estiver pronto. Isso é uma decisão extremamente particular. Mas, saiba que existe um mundo de possibilidades fora do armário. Nem tudo são flores, mas poder ser quem é à luz do dia e amar sem ter que se esconder torna a vida muito melhor. Pelo menos, tornou a minha.