O Instituto Água e Terra (IAT) monitora a adaptação da fauna à revitalização da Orla de Matinhos, no Litoral do Paraná. O trabalho é feito pelo Projeto Básico Ambiental (PBA), desenvolvido em parceria com o Consórcio DTA/Acquaplan, responsável pelas obras no local. Os dados mostram que até o momento foram avistados 4.287 animais na região, de 36 espécies, com destaque para a aparição de grupos de boto-cinza (SotaliaGuianensis) e toninhas (Pontoporiablaenvillei), que correm risco de extinção.
A coleta de dados é feita por meio do Programa de Monitoramento de Tetrápodes (superclasse dos vertebrados terrestres, que inclui anfíbios, répteis, aves com penas e os mamíferos). O programa é um dos braços do PBA, e acompanha de perto mamíferos marinhos, aves e quelônios (tartarugas) para identificar o comportamento dos animais e verificar eventuais impactos de ações antrópicas. O objetivo é mitigar possíveis danos à vida e ao habitat desses tetrápodes.
Segundo o biólogo do Setor de Fauna do IAT, Lucas Silva Azevedo, tendo esses dados, o órgão ambiental pode identificar espécies ameaçadas, espécies vulneráveis, espécies endêmicas – essas que têm uma maior relevância de conservação.
Os resultados preliminares indicam que a principal intervenção urbana da história do Litoral do Paraná não interferiu na convivência e existência de tetrápodes na região.
“Quando temos informações da ocorrência dessas espécies na área de influência de um empreendimento, o órgão ambiental pode solicitar atividades específicas voltadas para a sua conservação. É também por meio do monitoramento que é possível detectar se houve alguma mudança na composição de espécies ao longo da instalação e operação do empreendimento, no caso a obra na Orla de Matinhos”, afirma o biólogo.
É o que ocorre com o boto-cinza. Todos os indicadores apontam para a adaptação completa do cetáceo, que frequenta a Lista Nacional de Espécies em Extinção do Ministério do Meio Ambiente.
De acordo com a oceanógrafa e gestora da equipe técnica do Consórcio DTA/Acquaplan, Thelma Scolaro, a Baía de Paranaguá abriga uma das maiores populações de botos-cinza do Brasil. “O boto-cinza reside na Baía de Paranaguá, mas eles saem com bastante frequência, muito possivelmente para alimentação, e estão presentes também na região costeira de Matinhos, por isso esse monitoramento é de extrema importância”, explica Thelma.
O Consórcio DTA/Acquaplan integra o grupo de empresas vencedor da licitação pública para as obras de revitalização da Orla de Matinhos.
MONITORAMENTO – O Programa de Monitoramento de Tetrápodes é um instrumento de gestão a curto, médio e longo prazo para a conservação da fauna nativa. Ele identifica e monitora as espécies e os potenciais impactos na fauna de tetrápodes associados aos ambientes costeiro marinho e de praia, através de três metodologias: monitoramento embarcado, terrestre e através de sobrevoo da área marinha com drone.
Durante as atividades de campo, a equipe navega em duas linhas, uma que vai desde a Praia de Caiobá, em Matinhos, até o balneário da Praia de Leste, em Pontal do Paraná, e outra que vai desde o Balneário Flamingo até as proximidades da Ilha Itacolomi, ambos em Matinhos. Até o momento, foram percorridos 532 km em um total de 197 horas e 50 minutos no mar, com o avistamento de 2.096 animais, sendo 1.963 aves, 132 cetáceos e um indivíduo do grupo de pinípedes (lobo-marinho).
Quanto aos cetáceos, as avistagens mais frequentes são de botos-cinza, com a presença de 30 grupos durante as observações nos pontos fixos e 26 grupos durante as observações embarcadas, totalizando 56 grupos avistados até o momento.
Já o monitoramento terrestre percorreu 99 km em 29 horas e 40 minutos, com o percurso entre a Praia de Caiobá até a Praia de Leste em Pontal. Ao todo foram 342 avistagens e 2.191 indivíduos, referentes ao grupo das aves, todos indivíduos vivos e em boas condições. Os dois pontos fixos mais expressivos, com 381 e 231 animais, são próximos a locais de desembarque de pesca, sendo comum a avistagem de aves que aproveitam o descarte feito pelos pescadores artesanais.
Durante as atividades em agosto foram avistados também um pinguim e um lobo-marinho que estavam na região costeira de Matinhos. Além disso, através do monitoramento com drone, a equipe pôde observar a presença de toninhas (Pontoporiablainvillei), um tipo de boto, menor que os demais e com o rostro (bico) mais longo, que também está vulnerável à extinção.
Fonte: AEN / Fotos: IAT